Divulgando a Revista de Intercâmbio Cultural : Cá Estamos Nós - Maio 2013


 Portal CEN - "Cá Estamos Nós"
Revista Novos Tempos
Maio de 2013
Sexto Bloco


  Odenir Ferror
  Patrícia Dantas de Lima
  Paulo Balôba
  Priscila de Loureiro Coelho
  Rozelene Furtado de Lima
  Ruy Silva Santos
  Särita Bárros 
  Sonia Nogueira
  Sueli Bittencourt
  Téka Castro
  Thaiz Guedes
  Vany Campos
  Vera Lúcia Passos de Souza
  Wilson de Jesus Costa
 

ODENIR FERRO
Rio Claro - Estado de São Paulo - Brasil

O MUNDO É O MESMO

Bem... Pois é! Ufa! O mundo não acabou! Ainda bem! Então, assim sendo, feliz bilhões de milênios para todos!
Já pensaram? As nossas emoções, - no quanto se consternariam?! Nosso histórico de vida - tanto o pessoal quanto o social - seria o caos satisfatório do cão! Ou não? Creio que talvez nem mesmo para ele fosse interessante a destruição de tudo. Quantos inumeráveis amores sendo desfeitos - enquanto infinitivas inutilidades adjuntas, também seriam tragadas e trancafiadas nas profundezas dos infernos.
No fundo mais profundo dos mares, há universos inatingíveis, insondáveis... A natureza, em grades porcentagens ainda é auto reciclável.
Quando a Natureza resolve revidar-se - dando o seu tapa de mãos pesadas - contra nós, revidando-nos as agressões que a ela lhe fazemos - ainda que por bem, ela assusta-nos com apenas uma ínfima parte do que ela poderia usar da sua total potência - mediante aos incalculáveis estragos que ela poderia ao meio causar.
Não daria mais tempo para os novelistas desenvolverem as tramas dos últimos capítulos da sua novela - pois as fantasias de nós todos se explodiriam juntamente com tudo.
O Criador sempre soube e tudo olha tudo sabe - e as forças da Natureza estão submissas às Leis regidas por Ele: - quer alguns gostem, quer não.
Bem,... E o Mundo? Esta Obra-prima maravilhosa criada pela sabedoria divina - não acabou, como alguns muitos núcleos de incultos insanos, dentro das suas frustrações e ódio sádico - desejaria que fosse. Quantos jogos de vaidades, de sedução, de poder, morreriam sufocados por si mesmos, em questão de segundos...
Fico aqui a imaginar vagamente - nos muitos estragos que haveria. Tantos tesouros ainda inexplorados, inexploráveis, até - quantos enigmas, tantos outros mistérios indecifráveis, indesvendáveis...
As essências totais das belezas planetárias sendo destruídas (pois toda a galáxia entraria em desarmonia) - as inumeráveis obras-primas que a imaginação e a inteligência humana construíram ao longo dos milênios. A arquitetura, os livros, as cidades, enfim - uma sucessão inquestionável de valiosas e preciosíssimas obras.
Isto tudo descrito, sem contar com a Obra-prima maior que é a Natureza. Riquíssima em generosidade dadivosa em puro poder. Tem alguns segmentos da Humanidade que pensam que tudo podem que tudo sabem... Mas nada entendem do Todo que é Divino, que é Sagrado.
Bem... E se Deus permitisse tantas tragédias a mais acima de nós:
- Teríamos então, que repensá-Lo?! Reconduzi-Lo?! E daria tempo?

***

ITABIRA DE DRUMMOND DE TODOS NÓS

Assim como, através de Minas Gerais,
O Brasil exala os aromas de Itabira:
Espalhados através da imortalidade
De Carlos Drummond de Andrade!

Através da Poesia, atravessando o Tempo,
Como se fosse uma lança divinal: na escrita,
Inscrita na Eternidade, - através das origens
Conservacionista de Itabira. De Drummond,
De minas das Minas Gerais. Este abrasador
Coração, pulsando amor. Amor pelo Brasil!

Itabira é ferro: que está na composição
Do sangue dos brasileiros. Tudo é Arte!
É Cultura da Poesia, na Política desta Fé!
Assim como está na composição do sangue,
O ferro, - o ferro concentra-se na composição
Da couve. Planta que os mineiros, as mineiras,
Gostam. E eu, também. E Ferro é Minério,
E eu, também! Ferro está no sangue, que é
Vida! E sangue, também está nas Histórias
Das Histórias que são de Minas. Gerais...!

E de Minas, Itabira, das origens de Drummond
De todos nós, com os seus, dos seus para nós,
Concentram-se os Acervos Históricos Culturais!

ODENIR FERRO

 

 
Patrícia Dantas de Lima
João Pessoa - PB

(Intimidades de uma escritora)

Intimidades de uma escritora, como ouso pronunciar, é o mundo em que vivo, que penso e que crio – ora, quantos quês! Há, dentro das palavras – digo agora, minhas palavras -, a superfície de um corpo que acode a dança das substâncias fragmentadas. Criei um impasse porque tenho uma história construída no interior desnudado da linguagem: minha forma de comunicação que parte de mim para o mundo, ou será algo centrípeto, que parte, célere, para o quadro inquieto de minha existência?
Sou feita dos laços. Confesso que gosto mais, dos humanos; são os que encantam, machucam, fascinam e comovem a alma, como uma espécie de brisa que logo é transformada no redemoinho das palavras soltas.
Imagino os lugares sem as pessoas ao redor, sem o surto das composições impensadas; sem as emoções que surgem às avessas; sem as explicações extravagantes; sem a face poética dos atores que as sentem, irresponsáveis de si, arrancados pelo apelo arredio da presença dos outros - os frequentadores do universo agitado pela turbulência dos vizinhos anônimos. Desses mundos paralelos que imagino, faço reais suas existências, busco a urgência maior das coisas: da música, da poesia, do enigma que é viver todos os dias; entender o descompasso do tempo que urge com a frequência despudorada da prostituta das ruas.
Sim, as pessoas são as essências, os reveses, as simbioses. Compõem universos: dos loucos, normais, mortais, imortais; transeuntes do verão, caçadoras dos outonos e invernos gelados. Adoram, por assim dizer, contar os causos secretos do vizinho que é visto todos os dias às cinco da manhã, do quarto dos fundos; alguns, veem, inventam, outros, até imaginam as cenas que só existem esparsas e envolventes em suas crônicas diárias.
Particularmente, desejaria escrever na maior parte do tempo, para ver o resultado da decomposição exausta da minha alma; do mundo exalando a solidão como sentença de morte; do meu quadro incomensurável de analista melancólica das palavras desorganizadas. Assim, penso que existo; que sou de formas, conjecturas, exigências que logo passarão, porque amanhã é necessariamente meu outro dia, e já não serão somente minhas inquietações à mostra... é um corpo nu, de charme diabólico, provocante, que brotará das fantásticas histórias que assombrarão o mundo real e palpável.
Nas entrelinhas que descem e se escondem no fundo sombrio do papel, a mão logo é encontrada no fundo da raiz dos cabelos, à procura, de algo, do quê, do encontro de si, da pessoa-personagem com as palavras; não mais da ausência, do medo do não sentir. Escrever e descrever o que sinto, de forma suprema, como a eterna escritora que vive do mundo, em sua órbita de contos, novelas, ficções, crônicas e tudo que diz respeito à sua forma de existir.

***

(Sonata ao infinito)

Sonata ao amor
Sonata ao luar
Sonata ao mundo
Sonata à liberdade
Sonata ao canto
Sonata à dança
Sonata ao humano

A paisagem, o luar
o mar que bate
ondas que bailam
sintonia do ritmo
embalo das palavras
imagem do corpo, a pulsar
a alma desnuda, à procura

Do infinito, a partida
sem domínio de coisa alguma
o murmúrio, o grito, a música
e o som inconfundível da voz
como o orvalho que cai ao fim do dia
sem culpas, a causar delírio
eis o romance, ao fim da sonata

Patrícia Dantas de Lima

 

Paulo Balôba
Salvador-BA-Brasil

O homem que não acreditava em Deus

Andei pela vida desfrutando de muitas coisas até sentir uma magia no ar, porém não me dava conta de algo tão maravilhoso que estaria por vir, achava que era meu egocentrismo o motivo daquela energia que pairava sobre meu eu, e fui seguindo a vida… Andei por vilas, florestas, cidades, metrópole. Nas vilas estava só de passagem via casas, pessoas trabalhando e quando passavam de carro outras ficavam curiosas já que era difícil a presença de automóveis naquela região. Nas florestas passava uma semana contemplando a natureza tudo era muito bonito, mas não achava Deus. Procurei nos rios, nas cachoeiras, nas matas e não encontrava.
Chegue à conclusão que Deus não existia, porém não deixava de sentir uma magia no ar. Votei para cidade, estava mais maduro, mas não o suficiente para entender o que estava fazendo da vida… Andava de um lado para o outro da cidade sem saber o porquê que vivia, ou melhor, sem buscar o sentido das coisas, porém uma energia não deixava de pairar no ar. Um dia entrei numa Igreja vazia e uma pessoa apareça e pergunta o que estava fazendo ali, falei que não sabia, mas que algo inexplicável tinha me levado aquele lugar, ele falou comigo para voltar em dias de culto, procurei saber os dias para retornar, porém não acreditava em Deus. Mas ali seria uma forma de me envolver socialmente. No primeiro dia em que fui para missa estava meio tímido porque nunca havia frequentado uma igreja, não estava acostumado com aquela ambiência, mas como sou fácil de fazer amizade logo me entrosei com alguns fieis e fui convidado para participar da preparação para primeira comunhão e batismo sacramento de iniciação para os cristãos, aceitei o convite e no primeiro dia do curso fiquei um pouco encabulado já que a idade média dos participantes eram de doze anos e nessa época eu tinha dezenove, mas superei esse desconforto e todos os sábados que eram dias do curso estava eu lá cedo, pois o curso começava às duas horas da tarde e eu chegava uma e meia para conversar com a turma… O tempo foi se passando e minha fé aumentando e comecei a participar de outros eventos dentro da igreja como, por exemplo, o ministério de canto em que ensaiávamos para cantar nas missas de sábados e domingos. Isso era muito divertido e alimentava minha fé cada vez mais como também a sede de Deus… Mas algo maior o senhor teria reservado para mim… E só através da caminhada juntos com os irmãos é que vamos descobrindo nossa real vocação. Mudei-me para a capital do estado em que vivia e nessa metrópole algo maravilhoso acontece em minha vida, lanço um livro com a experiência da minha busca inconsciente de Deus e um CD com composições minhas, fiz um teste vocacional resultando na minha entrada para o seminário, depois de sete anos de perseverança me torno um sacerdote… hoje posso dizer que encontrei Deus e passei a entender aquela magia que pairava no ar. Esse foi o maravilhoso acontecimento que estava por vir, hoje sinto a presença de Deus nas pessoas, nas águas, nas cachoeiras, nas florestas, nos pássaros e em todo lugar que meu coração e minha vista podem alcançar…

***

Presente passado

Olho o passado com distorção,
Se estou bem, foi maravilhoso
Se estou mal, foi penoso
O jardim antes grande
Hoje pequeno
Aquela pessoa que admirava
Hoje continuo admirando
Sem saber que era ela
Que falava na radio
Aquilo que meu irmão me fez,
Esqueci os detalhes
Nem circunstância, nem vez
Um passado feliz, às vezes triste
Antes muito era um pouco
Hoje pouco é um muito
Solidão com amigo não existe
Solidão é a ausência de Deus
Solidão é a ausência do passado
Antes eu tinha força nos braços
Hoje no meu estado... só mente
Antes eu jogava bola bem
Hoje jogo também, não faço gol
Antes eu sonhava muito
Hoje os sonhos não vêm

Paulo Balôba

 

Priscila de Loureiro Coelho
Jacareí - São Paulo

As maravilhas de nosso cotidiano!

            A cada fase que vivemos, cada momento que desfrutamos, cada época, idade e experiência, nos traz alguma coisa nova que podemos somar como saldo positivo em nossa jornada, mesmo quando aparentemente algo sugere a negatividade.
            Talvez a característica mais bela da vida seja a mutabilidade, o renovar constante, a perene novidade de nosso cotidiano e a suprema capacidade do ser humano em adaptar-se a mudanças.
            Conforme vamos desvendando o significado, o sentido de nossa caminhada, e deixando que cada relacionamento que nos surge na vida floresça em sua própria peculiaridade, que cada evento se externe e nos comunique sua mensagem, vamos nos encantando com a maravilha que é viver e descobrindo a sabedoria que subjaz cada acontecimento, seja ele em roupagem agradável ou não...
            Por vezes reflito se a verdadeira sabedoria não está na simplicidade do indivíduo que se deixa mergulhar na vida com olhos curiosos, com a mente receptiva ao que se passa a sua volta; tendo o coração escancarado, disposto a experimentar, sem receio e com a eterna confiança dos inocentes, todo sentimento que a vida nos oferece. Sem julgar, sem pré-conceitos, sem resistência alguma, apenas e tão somente experimentar, saborear e então descobrir, através da vivência, a riqueza e diversidade que compõe nosso cotidiano.
            A vida realmente é uma festa, como já afirmou um pensador de nosso tempo... E uma festa onde todos são convidados a participar, onde não há exigência de traje, de contribuição que onere, nem condição alguma que possa nos vetar o direito a participar. Apenas nos é sugerido que devemos usufruir, aproveitar e nos deliciar com o banquete oferecido...
            Então, há a possibilidade de descobrirmos dentro de nosso cotidiano coisas surpreendentes que poderão interferir em nossas escolhas e, assim, alterar nosso destino.
            Tive a sorte de contar em minha formação acadêmica com um professor que era, sem dúvida, uma pessoa brilhante, daquelas que nos seduzem pela simplicidade com que polvilham nossos momentos de estudo com prendas de inestimável valor, proporcionando-nos uma compreensão clara e objetiva de feitos e aspectos da vida, que nos consumiam horas e horas de reflexões infrutíferas...
            Como sempre tive a inclinação para o viés filosófico da vida, tão logo o conheci já me dispus a aproveitar ao máximo seus ensinamentos.
            Certo dia, estávamos em aula com o tão querido mestre e um colega levantou a questão da casualidade. E passou a discorrer sobre o acaso, o aspecto aleatório do andamento da existência, dentro de nosso dia a dia, como elemento decisivo que esbarra, sem cerimônia, com a vontade do indivíduo.
            Todo o grupo se animou e cada qual se manifestou, com uma propriedade impressionante, a respeito da casualidade...
            Depois de muito se conjeturar, e cada aluno colocar suas conclusões, brilhantes reflexões, nosso mestre, senhor já de certa idade, humildemente pediu a palavra.
Possuidor de uma calma deliciosamente contagiante, e que até então apenas ouvia atentamente seus pupilos, transmitindo pelo brilho dos olhos um genuíno interesse pelos caminhos onde percorriam os pensamentos do grupo que liderava, esboçou serenamente um sorriso.
            Todos nós de imediato nos silenciamos e nossa atenção voltou-se para ele que,  agora em pé, aproximou-se da lousa e escreveu a seguinte palavra:
            Natureza.
            Feito isso, dirigiu-se a nós e foi indagando a cada um de nós o que observávamos na natureza.
            O primeiro comentou sobre o rio e seu destino: o colega seguinte sobre a floresta, depois se falou sobre as flores, animais e assim por diante todos fomos pontuando as obras que a natureza realizava, culminando com o nascimento de uma criança e o fascínio desta “produção”!
            Após estas colocações e reconhecimento da sabedoria e perfeição com que a vida agia em sua criação, nosso mestre virou-se e perguntou:
            - Segundo a observação de vocês, tudo que mencionaram é criação perfeita da natureza, em que não foi preciso haver a mão do homem, a interferência do individuo, para que se realizasse. O homem atua, interfere sim, mas porque deseja alterar o que existe, não pode ele criar... Minha questão a vocês é a seguinte:
            - Tudo que mencionaram aqui e que ocorre com certa constância e regularidade é por ventura obra da casualidade?
            Fez-se um silêncio agradável. Na verdade, foi o silêncio mais rico em sonoridade que já pude experimentar...
            Sem mais nada dizer, calmamente nosso mestre dirigiu-se ao quadro e em frente à palavra Natureza, escreveu...  Criador!
            Em questão de segundos tive a percepção exata do que significava nosso cotidiano: Um desenrolar sutil e harmonioso de fatos, eventos que nos convidam a buscar sintonia com o ritmo cósmico, uma certa ordem Divina, uma atividade serena e poderosa, única, que nos conduz aos resultados mais precisos e se transformam em realizações.
            O que pudemos aprender naquele dia foi algo interessante e verdadeiro. Nosso cotidiano é sem dúvida, a riqueza com que a vida nos presenteia, convidando-nos a mergulhar nele com atenção e sensibilidade, pois aí estão contidas todas as respostas que buscamos em nossa vida, é onde escrevemos, dia a dia,, nossa própria história.
            Assim, a grande dica parece apontar para que caminhemos atentos... Muito atentos ao nosso dia a dia!

***

A dança dos astros

O ritmo cósmico secular
Pulsa na cadência da eternidade
Onde os astros parecem flutuar
Em singela sincronicidade

Sintonizados no tempo das eras
Como quimeras distraem a humanidade
Enfeitando intenções puras e sinceras
Distorcendo o ideal da liberdade...

Eis que as estrelas emergem na escuridão
Então espalham sua claridade
E toda a humanidade por intuição
Reconhece a existência da Unidade!

Priscila de Loureiro Coelho

 

Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis - Rio de Janeiro

Adeus a um sonho
  
Lágrimas estão prontas para brotar
Sinto um aperto no peito
Num cantinho me ajeito
São lágrimas puras e quentes
Que rolam como serpentes
Vão salgando minha face, meu rosto
Chega aos lábios um forte gosto
De tempero salgado de saudade
Prato servido na intimidade
É choro, choro oposto ao riso
Choro comprido de preciso
Do aconchego amoroso ausente
Do calor de colo presente
De abraço forte apertado
De coração compassado
Como vara de violino em prece
Que toca a corda e ela estremece
Que ecoa no fundo da alma
Que a mão acaricia enxugando com a palma
É lágrima de que não me envergonho
É choro de adeus a um sonho
 
 

 
Ruy Silva Santos
Sorocaba/SP/BR

Chagas

As chagas na pele
Que o chicote provocou,
Não traduzem toda amargura
Que o negro carrega
No semblante triste

Os maus tratos impingidos
Ao escravo negro;
A distância da terra natal
E a separação das pessoas amadas,
Doem muito mais.

Mas, ele, obstinadamente,
Persegue o seu ideal:
Não se render,
Não se dobrar,
Se vendido, sim;
Vender-se jamais.

Ainda é difuso o ideal maior:
A liberdade plena.

Escondido em estranha neblina,
O vulto desta liberdade
Dilui-se...
Mas ele está lá...!

Os anos caminham lentos.
Perseverante, olhos no futuro,
O negro verá, um dia,
Raiar o sol
Da outra meia liberdade.

Ruy Silva Santos

 

Särita Bárros
Bagé/RS/BR

Mãe

É o copo d’água fresca quando a sede nos atormenta. É o apoio quando começamos a caminhar e o lenitivo em qualquer hora.
Mãe é a compressa fria na testa e a bolsa quente nos pés. É o cuidado sem limites. O amor que não aprisiona e o conselho na medida certa.
Mãe é a advertência que não machuca e o elogio sem medidas. É o chá com limão e mel quando o nariz escorre e as gotinhas salvadoras misturadas com amor e água quando um mal nos acomete.
Mãe é a comida que gostamos a nos esperar, quente e cheirosa. É o chimarrão no ponto, quando chegamos com a cabeça fervilhando e o corpo moído.
Mãe é o estar sempre à disposição. É topar qualquer programa, mesmo que seja ficar com os netos, quando já havia combinado tomar chá com as amigas.
Mãe é o abraço amoroso e verdadeiro. É o brilho que surge nos olhos quando nos enxerga. O beijo leve brisa que acarinha e conforta. O leite morno com canela antes de irmos para a cama.
Mãe é a rosa que se despetala, em plena florada, para nos cobrir de perfume.

***

Maio sem Mãe

Havia um brilho morrendo-se
Por de dentro dos seus olhos
E não pude criançá-lo.

Ela foi passarinhando-se
Até a alma bater asas.

Särita Bárros

 

Sonia Nogueira
Fortaleza CE Brasil

Os Opostos se Atraem?

Acredito que não. Só na física. Na realidade os opostos vivem em luta constante, apresentando valores não aceitos entre si. Cada pessoa é diferente, com gostos variados, e comportamento de rejeição em ralação ao outro.
Há gostos relacionados ao homem, exclusivos dos homens e que a sensibilidade feminina aceita por simples convenção. Mas, existem comportamentos e atitudes que se chocam entre casais.
As brigas são constantes, opiniões diferentes, projetos de vida adversos. O relacionamento conjugal se torna uma tortura. Um gosta do campo o outro de praia; um quer um filho o outro quer quatro; um é moralista o outro relaxado; um conserva a dignidade o outro ridiculariza se apóia no modernismo vulgar; um quer sair todo fim de semana com amigos, outro quer companhia; um aceito diálogo, outro detesta conversa fiada... Em vez dos laços afetivos se estreitarem a cada dia, surge uma corda com nós que nunca conseguem desatá-los.
Li numa reportagem e tenho até um filme da vida da Lady Diana e o Príncipe Charles. Os dois não combinavam em muitas coisas. Ela era temperamental, ele um gentleman, ela gostava de balada, ele de músicas clássicas, ele ia para a caça, ela detestava etc. viviam mais separados do que juntos e chegou o fim da união.
Os acertos devem ser feitos no período do namoro. Mas, às vezes a paixão é tamanha que as palavras somem, os projetos fogem do pensamento e o corpo a corpo fala mais alto. Quando dão por canta o caminho percorrido fica desconhecido, estranho e insuportável. Vêm as lágrimas num, a bebida no outro, e, os fatos, em vez de solução, criam problemas intransponíveis, frustrações, perda de confiança na capacidade das escolhas.
Assisti de perto alguns casos e vi como somos vulneráveis aos fracassos amorosos. Hoje, mais do que ontem, e mais amanhã. Com esta lavra de liberdade e pressa que estamos vivendo.

***

A Última Folha II

A folha qual mensagem vai seguindo,
Na busca da alvorada vem ternura,
Adentra em tua sala e ver-te rindo,
Lampejo de amizade com doçura.
A chuva vai molhando devagar
Até que umedeça em fértil terra
A vida, e vai regando em pleno ar,
Fazendo da distância clima e serra.
Cortando do caminho encruzilhado,
Plantando nos jardins cravo e jasmim,
Perfume que inebria o chão molhado.
Regando na semente meu jardim
Pra nunca acabar o canto enredo,
Do som da tua calma sempre assim.

Sonia Nogueira



 
Sueli Bittencourt
Florianópolis SC Brasil

PERPETUANDO A PAZ

Vamos perpetuar a paz.
Guerra nunca, nunca mais!...
Violência é própria de irracionais.

Usemos poderes dados aos humanos.
O poder de lógica ao raciocinar,
O poder de falar, de pensar, de ponderar...

Sem ganância, sem fanatismo, sem ódios...
De consciência e espírito elevados,
Agindo com bom senso e solidariedade...

Em benefício de tudo e de todos,
Para o bem de toda a humanidade,
Digamos então em alto brado:

GUERRA NUNCA, NUNCA MAIS,
QUEREMOS PERPETUAR A PAZ!!!

Sueli Bittencourt

 


Tereza Cristina Gonçalves Mendes Castro ( Téka Castro )
São Paulo - SP - Brasil

Fins dos tempos

A Natureza se revolta com as humanas atitudes
O que deixaremos para à Juventude?
Canibalismos ocorrendo na África, na Coréia do Norte,
A sorte de filhos sendo lançada por alguém.
Além do mais, a vida se transforma, os recursos naturais,
Extraídos ao acaso pela ganância humana.
O consumo exagerado das pessoas, o tempo que não será mais capaz
De refazer a vida.
Animais extintos, consumidos pelo lucro, levados das Matas Silvestres,
E, embalsamados por colecionadores idiotas.
Isso me revolta!!!
A Natureza chora, declara as suas catásfrofes,
Invade por ironia,
Já que o Homem esquece que ela de Deus é a maior poesia.
Temos que refletir,
Mudarmos rapidamente nossa maneira de agir.
" Deus tudo perdoa, o homem pode até perdoar, mas a Mãe Natureza, jamais perdoará o que de mal à ela fizermos!"

Téka Castro



THAIZ GUEDES
BRASIL

VIDA DE FEIRANTE

CORRE... CORRE... CORRE...
QUE O TEMPO VEM VINDO,
AS HORAS AVISAM TIC TAC...
TIC... TAC!
CINCO DA MANHÃ!
ACORDA... LEVANTA,
CAFÉ COM PÃO,
PORTA A FORA,
HORA DE TRABALHAR,
ÔNIBUS LOTADO,
SANDÁLIAS GASTAS,
FRUTAS FRESQUINHAS,
CLIENTES À VISTA,
OLHA A MAÇÃ!
OLHA A GOIABA!
VENCE QUEM GRITA MAIS FORTE,
 É HUM REAL FREGUESA!
E A NOITE CHEGA,
PARA DESCANSAR...
CORRE... CORRE... CORRE...

***

PARQUE DE DIVERSÕES

QUERO EMARANHAR-ME EM SEUS BRAÇOS
ESQUECER-ME DA HORA,
DO MUNDO LÁ FORA.
E NESSA UTOPIA,
NA BUSCA DO PRAZER...
VAMOS FUGIR!
PARA ALÉM DO HORIZONTE,
GOZARMOS UM MUNDO SÓ NOSSO,
UM PARQUE DE DIVERSÕES.
MONTADO EM QUATRO PAREDES,
ENTRE RISOS E BRINCADEIRAS
O CORAÇÃO ACELERA...
COM A EXPLOSÃO DO PRAZER TOTAL.
PORÉM, A FANTASIA TERMINA...
A REALIDADE CRUEL IMPERA NO DIA A DIA...
E SABE-SE LÁ QUANDO MONTAREMOS
NOSSO PARQUE DE DIVERSÕES!

THAIZ GUEDES


 
 
Vany CamposPorto Alegre - RS - Brasil

CONVITE

Quero tocar teus olhos
Acariciar teus desejos
Tecer fios em movimentos
Namorar teus intentos
No fulgor das horas
Sentir-te transparente
Para vivificar meu sonho.

Não permitas sombras sobre nós
Nem nesse esplendor que nasce
No tempo que haverá de permanecer
Na magia de tua imagem
De sermos como duas faces
Que brindem afetos e promessas.
Na arena escolhida dos sonhos.
 
 

Vera Lúcia Passos de Souza
Salvador BA Brasil

Meu horizonte

Meu horizonte transita as galáxias, belisca outros rincões
Sobrevoa nuvens branquinhas perdidas no espaço
Mergulha nas profundezas da Terra, à procura do aço
Arrebenta o ferro das correntes do passado
Os centros urbanos são castelos do lixo,  o homem bagaço
Seco, apodrecido, espoliado, vive seu inchaço
Eu quero luz; fugir nos meus passos.
Enxadas fogem dos campos, atravessam  estradas
Hibernam sedentos nas periferias abandonadas
Meu horizonte devassa a podridão dos becos, prostíbulos...
Navega nos nimbos, no vácuo, beija a Ionosfera.
Meu horizonte flutua  mares,Oceanos, altiplanos
Cria asas, volita como pássaros de arribação
Sem rumo, sem referência, cigano, sem nação
Invade  florestas, lagos,  cumes, Torres de Babel
Não há limites, fronteiras, idiomas, raças; só no papel.
Vadia nos desertos, caçando oásis, costumes, verdumes...
Na certeza que solo abaixo, mora água, ouro vivo.
Encontra silêncio, sapiência, pequenez, no céu
Nesse horizonte sou tuaregue,  beduíno, menino de cro magnon
Sou quase nada nessa imensidão, partícula, célula, verme...
Talvez o  cerne hibernado da futura evolução.




Wilson de Jesus Costa
Brasil

Jamais

Jamais me amarás como te amarei
Jamais me beijarás como te beijarei
Jamais me abraçarás como te abraçarei
Jamais me desejarás como te desejarei

E no passar dos dias após dias minha chama
Chama de amor profundo, creias meu amor!
Esse amor incendiará o mundo, eis um drama
E teu coração sentirá do meu, intenso calor...

Jamais esquecerei: viver a vida é sonhar
Sonha-se o ontem, o hoje, o amanhã que virá
Então, perambulo na esquina da paixão a amar;

E qual um Romeu não pronto para a morte
Ficarei à espera dizendo: ela jamais virá
Bebendo do veneno da minha falta de sorte...

Wilson de Jesus Costa








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